SECA FEIA
Deus me fez debaixo do sol
Nas veredas do Sertão
No estado de Pernambuco
Paraíba e Maranhão
Ceará e Alagoas
E os outros não lembro não.
Veja agora quem sou eu meu amigo Nordestino,
Sou a triste seca feia e secai meu destino.
Sai da frente, sou valente, eu te faço ficar fino
Já sequei pé de cagaita, de vaqueta e cansação
E até lagoa d’agua, Lagadiço, Caldeirão
Coqueiro, Imburana, Imburuçu e çãjoão.
Enquanto a chuva mata
Se relaxa lá no céu
Vou queimando o Nordeste
Cubrindo com meu véu
Resecano São Francisco
Com meu gogozão cruel
Resseco até os brejos
Transformando-os em poeira
Faço garça avoar e sumir da catinguera
Faço vaca emagrecer e dispencar na ladeira.
Mato cabra e ovelha pra vê corpos pelo chão
Todos cheios de urubu, de goró e formigão
E se duvidar de mim, mato toda criação
Quem tem muita fé em Deus pede
Chuva pra chover
Pre’u sumir da catinguera e pros bicho reviver
Pra plantar feijão na terra
Pra depois o recolher.
Mas se o cabra não tem Fé,
Sofre muito em minha mão
Por que eu sou miseravel,
Bicho ruim sem coração
Queimo a fauna e a flora
Sobre o solo do Sertão
E se a chuva não chover
Eu seco o Rio Gavião
Também seco o Solimões
E todos os rios do Sertão
Seco todos rios do mundo,
Sem esquecer do Jordão,
Onde o cristo batizou
Pra lhes dá a salvação.
Também seco o Mar Vermelho
Pra ver morrer tubarão
Isso é se Deus quiser
Que eu vô secano a pé
Só pra vê o sequidão.
Ananias Ribeiro Sousa - Aracatu-Ba